quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A escada

Cada dia uma surpresa
Cada surpresa um dia
Tem cada dia que tem mais de uma
Parece uma escada
Uma escada que escarra cada dia de surpresas ácidas

São dias, cada dia, dias, corrosivos
Uma escada que parece levar ao inferno
Nem de terno estou
Impossível ficar terno e manso
Cada dia...

Cada escarrada cai em mim
Cai de mim cada pedaço
É como aço

Mas tem gente ainda que acredita sem pena
Que dita pra mim que vale a pena
A gente tenta
E a escada que parece levar ao inferno
As vezes pára

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Nenhum alicerce

feito a quatro mãos

Não espero o pão
O sonho não me seduz
A luz do dia não me instiga
Sei dos embates noturnos
E da obrigação de travá-los
Mas, o dia permanece antes
Na amargura, produzo as questões
Antecipadamente fora do prumo
O futuro ausente não pode resistir
Exige presente e não reagir
As ações insossas
É uma pura esperança
Sem alicerce algum

Alicerce

por Heitor Claro

Nem pão
Nem sonho
Nem dia
Nem noite
Nem nada

Hoje é dia
É dia que dura
É pura amargura
É fora do prumo
É um futuro sem presente
É sonho
É sal sem assanho
É um preto no branco

É um presente duro
E com futuro duro
É uma pura esperança
Sem nenhum
ALICERCE

Negrura

por David Almeida


Alguns esperam o momento certo
Não sou destes
Criar é o que me instiga
Sei dos embates
E da obrigação de travá-los
Mas, me anteponho a eles
Os faço responder às questões
Que coloco antecipadamente
Odeio resistir
Porque não creio em reações
Apenas ações valem a pena
Num dia como este.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Celebração da fantasia

Foi na entrada da aldeia de ollantaytambo, perto de Cuzco. Eu tinha me soltado de um grupo de turistas e estava sozinho, olhando de longe as ruínas de pedra, quando um menino do lugar, esquelético, esfarrapado, chegou perto para me pedir que desse a ele de presente uma caneta. Eu não podia dar a caneta que tinha, porque estava usando-a para fazer sei lá que anotações, mas me ofereci para desenhar um  pouquinho em sua mãe.
Subitamente, correu a notícia. E de repente me vi cercado por um enxame de meninos que exigiam, aos  berros,  que eu desenhasse em suas mãozinhas rachadas de sujeira e frio,  pele de couro queimado: havia os que queriam um condor e uma serpente, outros preferiam periquitos ou corujas, e não faltava quem pedisse um fantasma ou um  dragão.
E então, no meio daquele alvoroço,  um desamparadozinho que não chegava a mais de um metro do chão mostrou-me um relógio desenhado com tinha negra em seu pulso:
-Quem mandou o relógio foi um tio meu, que mora em Lima-disse.
-E funciona direito?-perguntei.
-Atrasa um pouco-reconheceu.
Texto retirado da página 39 do livro "Livro dos Abraços"  de Eduardo Galeano, editora L&PM Pocket

Saudade

Saudade é solidão acompanhada, 
é quando o amor ainda não foi embora, 
mas o amado já... 

Saudade é amar um passado que ainda não passou, 
é recusar um presente que nos machuca, 
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais... 

Saudade é o inferno dos que perderam, 
é a dor dos que ficaram para trás, 
é o gosto de morte na boca dos que continuam... 

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: 
aquela que nunca amou. 

E esse é o maior dos sofrimentos: 
não ter por quem sentir saudades, 
passar pela vida e não viver. 

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Milagre, que como quem cria, também desaparece

So-lu-cei
Soluções só le-tra-das
Então, Gritei
Fabriquei-as ri-os
Todas
             bem nascidas
quase morri

Faltou luz
Escureceu, a noite sobrou
Me faltou manta clara
Soletrei Rios
Desci e subi a geografia

Me faltou força pra acreditar que voltará
Ficara, aqui, soluçada, gritada
Me solapa a vida passada, que não voltará

Minha vida, que seria dela, que sem Ela, que não conheci?
Nem vi, passou, feito rasgada corredeira de veio forte
mas ficou, como uma moça forte
grande nas coisas que fez